Vivemos tempos de grandes incertezas e sob permanente ameaça de novas crises. O mundo não se recompôs da crise financeira internacional de 2007/2008, a instabilidade e os conflitos internacionais multiplicam-se e ninguém sabe que União Europeia resultará do Brexit e da reconfiguração política dos últimos anos. A estabilidade vivida em Portugal não apaga o sentimento de insegurança que aumenta com a precariedade como horizonte (recibos verdes, estágios, temporários, outsourcing, uberização) e o desemprego como ameaça. Os salários baixos tornam-se ainda mais curtos com a explosão do custo da habitação e não faltam as projeções sobre a queda demográfica e a insustentabilidade da Segurança Social.
A todas estas crises e ameaças junta-se a maior de todas: a emergência climática. O aquecimento global está a acelerar e se nada for feito em 2030 teremos ultrapassado o aumento de 2º C na temperatura global, barreira a partir da qual se desencadeiam fenómenos irreversíveis de caos climático. No nosso país, os efeitos das alterações climáticas já fazem vítimas: fenómenos extremos, como os incêndios de 2017, são o exemplo mais trágico.
A todas estas crises e ameaças junta-se a maior de todas: a emergência climática.
Com o clima não se negoceia. Faliu a política dos pequenos passos, da consciencialização individual e do capitalismo verde. Taxar o gasóleo de quem não tem transportes públicos aprofundou clivagens sociais. Apelar à responsabilidade da reciclagem não travou o aumento do plástico em circulação. O comércio das licenças de emissões de carbono consolidou o modelo energético. A emissão de gases com efeito de estufa acelerou na última década. É urgente uma nova estratégia. Não podemos esperar mais.
A mobilização extraordinária das mais jovens gerações em torno da crise climática
não é um simples grito de desespero. É a força para uma transformação radical em
nome das nossas vidas.
Com o clima não se negoceia. Faliu a política dos pequenos passos, da consciencialização individual e do capitalismo verde.
As várias crises que vivemos têm um nome: capitalismo. O sistema financeiro que delapida o Estado Social, a especulação financeira que nega o direito à habitação, a desregulação laboral que aumenta horários de trabalho e comprime salários, a fúria extrativista que ameaça a vida na Terra. As pessoas refugiadas por razões climáticas já superam as que o são por motivos relacionados com as guerras. Não há soluções sem a coragem e a sensatez de políticas socialistas, as que podem responder pelo clima, pelo emprego, pela segurança.
É esse caminho que o Bloco propõe. Portugal precisa de uma estratégia para a reconversão energética, do território, dos transportes, da indústria, da habitação. Um programa financiado por uma economia mais justa, com controlo público dos setores estratégicos e que cria emprego, convocando todo o tipo de qualificações e impulsionando inovação e conhecimento. Um caminho que contraria a perda demográfica e garante a mão de obra necessária - estancando a emigração, convidando ao regresso de quem partiu, acolhendo quem venha de outros países – com uma legislação laboral capaz de promover emprego e salários. Uma escolha que combate as desigualdades ao garantir escola pública, Serviço Nacional de Saúde, Segurança Social, transportes coletivos: o Estado Social é indispensável à coesão e à democracia.
A mobilização extraordinária das mais jovens gerações em torno da crise climática não é um simples grito de desespero. É a força para uma transformação radical em nome das nossas vidas.
Sabemos que um país não pode tudo. Mas a responsabilidade de cada país, que é também a nossa, é ser participante ativo de uma comunidade internacional que trave o aquecimento global. E cada governo tem, perante o seu povo, a responsabilidade de tornar o seu território e as suas infraestruturas mais resistentes às crescentes dificuldades que, sabemo-lo já, teremos de enfrentar.
Podemos viver melhor. Nas escolhas que fizermos, construímos o nosso futuro.