Um ensino superior e uma investigação científica para a mudança

3.5 Um ensino superior e uma investigação científica para a mudança

O problema:

Na última década, as instituições de Ensino Superior sofreram uma quebra de cerca de 30% no seu financiamento, conduzindo-as a uma política de gestão de curto prazo e de sobrevivência, baseada na procura de receitas próprias. A despesa em Portugal com o Ensino Superior é de tal forma limitada que não atinge 1% do PIB. A desresponsabilização do Estado sobrecarrega os estudantes e as suas famílias com taxas e propinas.

Segundo o relatório “Education at a Glance” de 2018, o financiamento público ao Ensino Superior em Portugal é o menos representativo na Europa e na OCDE, representando apenas 54%. O valor médio na União Europeia é de 78,1% e nos países da OCDE de 69,7%. A outra face deste subfinanciamento público é Portugal situar-se no grupo dos países onde as propinas são mais elevadas.

O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) introduziu uma lógica mercantil no funcionamento do sistema, patente na entrada para os Conselhos Gerais dos representantes dos principais grupos económicos, ao mesmo tempo que remeteu para um nível quase simbólico a democracia na gestão da academia. O RJIES estabeleceu ainda uma hierarquia inaceitável entre universidades do mesmo sistema, introduzindo incentivos financeiros em função das escolhas de modelo de gestão e condicionando, por essa via, a autonomia das instituições.

A empresarialização da gestão académica, combinada com o défice democrático, transformou o Ensino Superior numa fábrica de gente precária: falsos bolseiros e bolseiras, docentes contratados e contratadas de semestre em semestre para assegurar tarefas permanentes, uso e abuso da figura de “docente convidado ou convidada” para evitar a abertura de concursos para lugar de carreira são apenas alguns exemplos do estado de degradação que o setor atingiu. A abertura do Processo de Regularização Extraordinária de Vínculos Laborais Precários na Administração Pública (PREVPAP) trouxe luzes sobre a dimensão da precariedade na investigação e no ensino superior. No entanto, quer o PREVPAP quer a Lei 57/2017 têm tido uma aplicação muito limitada, tendo esbarrado na oposição de muitos reitores e na inação do governo.

No que respeita ao sistema científico nacional, os últimos quatro anos provaram que o funcionamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) se pauta por uma burocratização estrutural que, aliada à falta de meios e pessoal técnico, deixam o setor numa imprevisibilidade e atrasos constantes. O aumento do orçamento para a ciência, proposto neste Programa, terá, para ser executado com rigor e qualidade, de contar com uma profunda alteração do funcionamento da FCT.

Os investigadores e as investigadoras seniores, em particular contratados ao abrigo do Programa Investigador FCT, viram nesta legislatura a sua situação laboral seriamente comprometida, mantendo-se para a grande maioria a não integração nos quadros das suas instituições. Em geral, as pessoas responsáveis pelas instituições do ensino superior recusaram contratar investigadores, tendo apenas interesse pela contratação de docentes.

O Bloco propõe:

  • Financiamento plurianual contratualizado com as instituições de ensino superior, com a contrapartida de um mecanismo avaliativo sobre implementação de políticas na melhoria da ação social escolar e do combate à precariedade. Pretende-se recuperar os valores de investimento público anteriores à intervenção da troika e convergir com o valor em percentagem de despesa pública correspondente à média da União Europeia (1,9% ou 2,3) - 150 milhões de euros por ano, até atingir os 600 milhões/ano;
  • Redução faseada do valor da propina máxima entre 2019/2020 e 2022/2023. Redução em cada ano do valor da propina máxima de licenciatura ou mestrado integrado em 214 euros, atingindo-se a gratuitidade da frequência do ensino superior público em 2023;
  • Alargamento da rede de residências universitárias e revisão do regulamento de bolsas com reformulação da fórmula de cálculo e definição de um calendário certo e regular para a transferência das bolsas;
  • Revisão do RJIES, recuperando o princípio da participação paritária entre corpos e de género nos órgãos de gestão e o princípio da eleição do ou da reitora/presidente por um colégio eleitoral alargado e representativo;
  • Revisão dos estatutos das carreiras (ECDU, ECDESP) com definição de critérios claros de avaliação de desempenho;
  • Valorização do Ensino Superior Politécnico, aprofundando o seu financiamento e os mecanismos de ação social, garantindo efetivamente a possibilidade destas instituições ministrarem doutoramentos e reforçando a sua capacidade na área da investigação científica;
  • Atingir na legislatura 3% do PIB em investimento em ciência e investigação;
  • Alteração do modelo de funcionamento da FCT, através da contratação de pessoal especializado, mais autonomia na decisão e ação e melhor ligação com o setor científico;
  • Revogação do Estatuto de Bolseiro de Investigação Científica para todas as tarefas não formativas e obrigatoriedade de contratação de investigadores e investigadoras ao abrigo do Estatuto da Carreira de Investigação Científica através de um rácio mínimo de pessoal na carreira para aceder a financiamento estatal e/ou comunitário.
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