Investir na coesão territorial

3.9 Investir na coesão territorial

3.9.1. Serviços públicos e democracia

O problema:

O despovoamento do interior do país cria problemas de vulnerabilidade territorial e desigualdade social. Em Portugal 70% da população concentra-se nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, o interior fronteiriço está praticamente desabitado e 85% das cidades têm menos de 50 mil habitantes.

O movimento de migração da população do interior e a sua concentração no litoral foi sendo acompanhado por uma concentração de serviços públicos, retirando capacidade às zonas de mais baixa densidade populacional e concentrando também no litoral o emprego público (e qualificado). O interior, envelhecido e desabitado, é também o interior empobrecido e esquecido.

O interior, envelhecido e desabitado, é também o interior empobrecido e esquecido.

No século XXI, Portugal viu encerrar mais de 6 500 serviços públicos: 4 492 escolas, 1 168 juntas de freguesia, 411 estações de correio, 249 extensões de saúde, entre muitos outros serviços encerrados entre 2001 e 2014, de acordo com o levantamento feito pela Agência Lusa. Acrescem outros encerramentos em 2014 e 2015: mais de 150 repartições de finanças, tribunais (tendo sido reabertos em parte nesta legislatura) e postos de correios. Os encerramentos concentraram-se no interior e norte do país.

Estes encerramentos sucedem-se a um período de corte de transportes coletivos que serviam o interior e que se iniciou nos anos 90 do século passado com a privatização da Rodoviária Nacional e com o  encerramento 30% das linhas férreas do país.

A resposta do PS e da direita

O PS e a direita têm defendido a inevitabilidade do encerramento de serviços públicos no interior face à perda da população. Em vez de utilizarem os serviços públicos como promotores de coesão, aceleram os processos de despovoamento. Para promover a criação de emprego no interior têm-se limitado a propostas de benefícios fiscais que se revelam inconsequentes. Têm promovido ainda formas de exploração e financeirização do território que atacam comunidades locais e meio ambiente (veja-se o exemplo das culturas superintensivas no Alentejo, os novos projetos de exploração mineira ou o contínuo eucaliptal). Finalmente, iniciaram um processo de descentralização de competências para as autarquias e comunidades intermunicipais que, muito embora se diga promover a proximidade das populações à decisão, sem mecanismos de compensação ou legitimação democrática agrava as desigualdades. Delegar responsabilidades que devem ser nacionais e solidárias em municípios sem escala, recursos humanos com densidade técnica e/ou recursos financeiros, é condenar a população do interior a serviços públicos (da saúde à educação) ainda mais frágeis.

O Bloco propõe:

  • Uma estratégia de valorização do território e das comunidades rurais assente na transformação agrícola e florestal, do plano ferroviário nacional e da garantia de acessibilidades nas situações de isolamento das comunidades e dos aglomerados populacionais;

  • Programa de reabertura gradual de serviços públicos nos territórios de baixa densidade, acompanhado de incentivos à fixação de trabalhadores e trabalhadoras do Estado nesses territórios. O programa deve ser estruturado em colaboração com os municípios e de acordo com a avaliação do seu efeito no povoamento do território;

  • Autonomia e responsabilização dos serviços públicos na execução dos seus orçamentos, nomeadamente despesas correntes e preenchimento dos seus quadros de pessoal. Dos tribunais aos museus, passando pelas escolas, transportes e centros de saúde, a necessidade de autorização do Ministério das Finanças para todas as despesas e contratações, incluindo substituição de trabalhadores ou trabalhadores, provoca estrangulamentos insustentáveis e uma degradação dos serviços, que é particularmente penalizadora nos territórios mais vulneráveis;

  • Reversão da fusão de freguesiasnos casos em que a população o deseje, com base em processos referendários sob proposta das assembleias de freguesia, das assembleias municipais ou dos residentes (através de abaixo-assinado subscrito por, no mínimo, 25% dos eleitores da freguesia), solicitando o agendamento para debate e votação em Assembleia de Freguesia;

  • Um processo participado, aberto e democrático com vista à regionalização. Os serviços públicos devem estar adstritos ao nível do Estado mais ajustado ao seu cumprimento e escrutínio e, em muitos casos, essa escala é regional. Assim, é necessário dotar as estruturas intermédias do Estado de legitimidade democrática. Os cidadãos e as cidadãs têm o direito de eleger os órgãos e participar na definição das políticas da sua região. A constituição de regiões serve a promoção de políticas de coesão territorial e o escrutínio popular do investimento público e de políticas económicas com vista a suprir as desigualdades entre territórios.

3.9.2. Regiões Autónomas: solidariedade e democracia

O problema:

Os custos da insularidade colocam desafios especiais à coesão social e territorial. Não por acaso, e segundo os dados do INE divulgados em maio de 2019, a população das regiões autónomas é a mais exposta ao risco de pobreza (31,6% nos Açores e 27,5% na Madeira).

As respostas devem obedecer a uma dupla responsabilidade: a solidariedade nacional e o respeito pela autonomia. Mas, na verdade, com demasiada frequência, assiste-se a uma total desresponsabilização com um jogo de passa culpas entre a República e dos governo regionais.

Tem faltado a solidariedade orçamental da República para responder às necessidades da condição ultraperiférica das regiões autónomas e falta compromisso para os investimentos estratégicos. O aprofundamento da autonomia está ainda refém de mecanismos institucionais que menorizam as regiões autónomas e as suas instituições e que lhes retiram capacidade de decisão em matérias fundamentais ao seu desenvolvimento.

O Bloco propõe:

  • Garantia de audição das regiões sobre acordos e tratados internacionais e obrigação de parecer vinculativo regional nas matérias que respeitam diretamente à região autónoma;

  • Substituição da figura do representante da República por um órgão autónomo com os mesmos poderes;

  • Revisão da Lei das Finanças Regionais, retirando os constrangimentos impostos no período da troika, garantindo estabilidade e adaptando-a às atuais necessidades;

  • Apresentação pelo governo da República, no prazo máximo de seis meses após a tomada de posse, do seu programa de investimento nas regiões autónomas;

  • Garantir o controlo, gestão e investimento públicos nos cabos submarinos que ligam as regiões autónomas ao continente;

  • Nova política para o mar, incluindo alteração do regime jurídico e investimento na investigação, como já descrito;

  • A celebração de contratos-programa entre a República e as regiões, no quadro dos projetos de interesse comum e que visem, entre outras áreas, reconversão e eficiência energética, tratamento e reutilização de águas residuais, reciclagem de resíduos;

  • Garantir o direito à mobilidade dos residentes nas regiões autónomas, com o fim do pagamento total e antecipado das tarifas no acesso ao subsídio de mobilidade;

  • Aplicação de obrigações de serviço público no transporte aéreo de mercadorias e garantia de distribuição atempada de correio;

  • Reforço da RTP nas regiões, garantindo autonomia financeira e capacidade de produção própria, bem como de preservação e promoção dos arquivos, com orçamentos que respondam às obrigações de programação no contexto dos arquipélagos, incluindo mais delegações, substituição de equipamento obsoleto e vinculação dos e das profissionais em situação precária.

Para a Região Autónoma dos Açores, o Bloco propõe ainda:

  • Fim da presença norte-americana na Base das Lajes, com exigência de indemnização para reparação de danos sociais e ambientais e obrigação de cumprimento da legislação laboral nacional no período de transição;
  • Aprofundar, sistematizar e controlar o processo de requalificação ambiental dos terrenos na Ilha Terceira;
  • Garantir duas tripulações dos helicópteros da Força Aérea estacionados nas Lajes que permitam assegurar evacuações médicas de emergência a todo o tempo;
  • No quadro de uma nova política para o mar, constituição no Faial de um laboratório do Estado com estatuto de Instituto Público Nacional e no quadro dos projetos de interesse comum;
  • Reforçar o apoio à Universidade dos Açores, tendo em conta a sua insularidade e tripolaridade;
  • Garantir que a ANA prolonga a pista do aeroporto da Horta com vista à melhoria das condições de operacionalidade;
  • Instalação no imediato do radar meteorológico da Terceira e, no espaço de um ano, dos radares das Flores e de São Miguel;
  • Construção do estabelecimento prisional de Ponta Delgada, requalificação do estabelecimento prisional da Horta e reforço dos meios humanos e materiais das forças de segurança.

Para a Região Autónoma da Madeira, o Bloco propõe ainda:

  • Renegociação da dívida da Região ao Estado, permitindo redução de encargos anuais e dos juros totais;
  • Programa para a melhoria da operacionalidade do Aeroporto da Madeira, incluindo investimento em meios tecnológicos e estudo dos ventos;
  • Reposição da ligação marítima regular de passageiros entre a Região e o continente;
  • Concretização da obrigação de financiamento de 50% do Novo Hospital Central da Madeira;
  • Programa de recuperação dos serviços públicos da responsabilidade da República;
  • Garantia em permanência de helicóptero da Força Aérea para missões de resgate e salvamento e para combate a fogos florestais.
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